Arqueologia do Vazio (Porto/PT, 2019)
Percurso mediado por som e imagem apresentado no programa The (mis)guided Tours, projeto satélite da Porto Design Biennale 2019.
O Bairro de São Vicente de Paulo foi um conjunto de habitações populares, localizado na freguesia de Campanhã no Porto, construído no final da década de 1940 em um terreno anteriormente inculto. Um dos bairros sociais mais antigos da cidade, surgiu para abrigar sobretudo pessoas desalojadas de ilhas e habitações precárias do Centro. Apesar da resistência dos moradores, as casas que compunham o bairro foram demolidas em etapas entre 2005 e 2008, sendo alegados como motivos seu elevado nível de degradação e a falta de segurança no local. Pessoas que residiram a vida toda no lugar foram realojadas para diferentes bairros sociais da cidade, a maioria distante da sua freguesia de origem. A demolição até hoje é questionada por alguns dos antigos moradores, já que a destruição foi executada mesmo sem que houvesse qualquer plano para a área. Após cerca de treze anos do início do processo de demolição, o terreno ainda permanece vazio.

A partir dos muitos platôs que compõem o descampado onde antes existia o bairro, um vazio de cerca de 2,8 hectares com vistas panorâmicas para o entorno e para o Douro, é possível visualizar alguns dos principais pontos de referência da freguesia de Campanhã. Entre eles o Estádio do Dragão, a Av. 25 de Abril, a estação de comboios e o Antigo Matadouro Municipal, estes dois últimos já na fila de espera para serem alvos de grandes projetos de reestruturação nos próximos anos. Obras de reabilitação nas ruas adjacentes e a promessa desses novos investimentos de larga escala nas proximidades do terreno indicam que não demorará muito até que este seja também reconvertido.
Arqueologia do vazio é um passeio num descampado localizado na zona oriental do Porto, onde antes existia o Bairro de São Vicente de Paulo, demolido há mais de uma década. Lanço a hipótese de que este terreno vago já nos limites do Porto oferece um ponto de vista privilegiado para perceber algumas das dinâmicas de urbanização que têm regido as transformações da cidade, sobretudo em sua zona oriental. O passeio Arqueologia do vazio procura centrar-se no descampado, enquanto este ainda existe como tal, e apresentá-lo ao visitante a partir de leituras das características do espaço e dos seus movimentos de ocupação e desocupação. Neste percurso, marcado por apontamentos sonoros, espaciais e imagéticos que os visitantes encontram à medida que caminham pelo terreno, o espaço é concebido como uma espécie de arquivo. Escava-se o solo para desvelar vestígios e tensões latentes na trajetória do lugar, buscando assim sublinhar movimentos passados, expectativas futuras e dinâmicas ativas no presente.
Fotos de Maria Kemmer (2 a 9; 9; 11 a 15), Orlando Vieira Francisco (1) e Flora Paim (10)
O percurso "Arqueologia do vazio" também foi apresentado em versão reduzida no projeto ERRE Bonjoia, proposta de ativação do território da Bonjoia (Campanhã/Porto) elaborada por Diogo Martins e João Melo para a CRL - Central Elétrica em Outubro de 2021.
Fotos de Thiago Liberdade & Inês Costa
FICHA TÉCNICA ARQUEOLOGIA DO VAZIO
Criação
Flora Paim
Produção
Flora Paim e Laurem Crossetti (The (mis)guided Tours)

Apoio à produção The (mis)guided Tours
Isabeli Santiago e Alícia Medeiros
Montagem
Flora Paim e Miguel Vale 

Design Gráfico The (mis)guided Tours
Beatriz Alcantara

Registros (foto & vídeo) The (mis)guided Tours
Maria Paula Kemmer
Agradecimentos
Coletivo MAAD
Ângelo Coelho
João Moura

Joana Braga
Lis Paim
Leonor Parda
Miguel Vale
Kauê Gindri
Renato Machado
Sara Goulart
Sr. Carlos (Rancho Folclórico Danças e Cantares de Campanhã)


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