Práticas de Fronteira (Fortaleza, Ceará/BR, 2015_2016)
Projeto de investigação artística realizado através do Laboratório de Artes Visuais da Escola Porto Iracema das Artes em parceria com Ivana Amorim e sob orientação de Ricardo Basbaum. Foi exposto no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura entre Dezembro e Fevereiro de 2015.
O trabalho "Práticas de fronteira" foi elaborado a partir do processo de pesquisa e imersão na Feira da Rua José Avelino, vizinha ao Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar, no centro de Fortaleza.
Há cerca de dez anos esta rua é ocupada duas vezes por semana por uma feira de roupas que atrai fabricantes, sacoleiras e compradores de várias cidades do Norte/Nordeste. Apesar de possuir dias, horários e um perímetro urbano acordado com o poder municipal para sua ocorrência, tais limites são constantemente burlados pelos feirantes, o que origina conflitos constantes com os órgãos de fiscalização a respeito da cessão do espaço e reações públicas contrárias à prática que costumam marginalizá-la, associando o lugar à insegurança e insalubridade.
Para viabilizar sua existência, os feirantes desenvolveram uma série de estratégias e códigos que regem a sua instalação no local sobretudo no que diz respeito da partilha do espaço público. Existem, por exemplo, acordos bem definidos acerca da propriedade de cada ponto de venda que são trechos da rua loteados entre os vendedores, usualmente demarcados por meio de traços e nomes escritos sobre o asfalto.
As estratégias também se estendem aos modos efêmeros de implantação na rua. A estrutura espacial da feira é composta por barracas de ferro e madeira cobertas por grandes lonas coloridas, que também podem ser postas diretamente sobre o chão para delimitar domínios comerciais. São arranjos sustentados por gambiarras, amarrações improvisadas com retalhos que sobram da feitura das roupas; instalações elétricas precárias e clandestinas onde se embolam fios de energia; passagens estreitas que vencem declives e buracos com tijolos e tábuas. É um espaço inacabado por definição, fadado à construção e desconstrução incessantes, à repetição que se faz diferente a cada ocasião por ser regida por leis maleáveis manifestas através de uma arquitetura fluida.
Dentro da lógica da cidade formal, a feira se instaura como uma espécie de ruptura rebelde. Sua existência traz à tona questões relativas à normatização e o caráter excessivamente controlado do espaço urbano. É montada dentro de um perímetro da cidade concebido enquanto complexo cultural e turístico, se impondo nesse contexto como um estorvo, uma mancha, a manifestação do imprevisível no traçado reto do projeto.
O trabalho parte da ideia de contaminação entre dois territórios e práticas que apesar de contíguos permanecem em desconhecimento recíproco: o espaço institucionalizado do museu e o espaço informal da feira. A solução adotada consiste na adaptação de um carrinho de carga, semelhante aos utilizados pelos carregadores da feira no transporte de mercadorias e materiais, como uma unidade móvel que torna possível o trânsito, entre o museu e a feira, dos principais elementos produzidos para a exposição.
Estes consistem em um vídeo, fotografias distribuídas através de postais, áudios elaborados a partir de conversas com os feirantes e uma coleção de etiquetas composta durante o processo de pesquisa. Tal conjunto reflete sobre a ideia de limite, conflito e contágio da feira com a cidade formal e também sobre as estratégias de garantia de propriedade privada, divisão e administração do espaço público entre os feirantes.
FICHA TÉCNICA PRÁTICAS DE FRONTEIRA
Concepção e realização
Flora Paim e Ivana Amorim

Tutoria do projeto
Ricardo Basbaum

Fotografia do vídeo


Montagem do vídeo
Lis Paim

Correção de cor
Joana Rodrigues

Captação dos áudios da ambiência da feira
Vivi Rocha

Captação dos áudios das conversas com os feirantes
Flora Paim e Ivana Amorim

Edição dos áudios da ambiência da feira (som geral da sala de exposição)
Henrique Gomes

Edição dos áudios das conversas (fones de ouvido)
Flora Paim e Lis Paim

Mixagem dos áudios das conversas (som dos fones de ouvido)
Daniel Nunes

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