andar+escrever=escavar (Porto/PT, 2018)
Objeto e ação performativa
Ao andar por uma estrada de barro no centro de Portugal, penso sobre o rastro deixado pela minha trajetória. Texto inscrito no chão vermelho que remete ao meu corpo ausente. Um pé após o outro, cavo no solo uma grafia espacial do movimento. Cartografias entalhadas na terra. Ocorre-me, então, a ideia de fusão entre dois gestos: o de andar e o de escrever. Ambos seriam ações de marcação e impacto. Surge uma possível equação:
Um apêndice cravado de pregos é acoplado aos meus pés. Ao caminhar, penetro o solo e, ao mesmo tempo, rapto um pouco da sua matéria ao ir embora. O instrumento me impõe um andar distinto, reelaboro o equilíbrio do corpo. O pé finca no chão; o chão fica no pé. Já não se coloca somente a questão do caminhar, mas também a do ficar preso ao chão; já não se coloca apenas a questão da inscrição na paisagem, mas a de como o espaço também me marca e, literalmente, pesa sob os meus pés. Como se a distância linear pudesse ser convertida para uma unidade de medida em volume: quanto mais percorro, mais pesado se torna o passo. Relações de atrito se criam pela resistência dos materiais sob o peso do meu corpo. Levar o lugar comigo é ferir o lugar, abrir uma cicatriz. Ir embora e continuar a ter o mesmo solo sob os pés.
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