A memória do vazio contra o vazio da memória
O método do arquivo na investigação artística de um lugar apagado.
Artigo publicado na PIXO - Revista de Arquitetura, Cidade e Contemporaneidade, v. 7 n. 24 (2023): Arquiteturas do Abandono, pp. 204-221.
Resumo: Neste artigo aborda-se a metodologia do arquivo na arte contemporânea para problematizar as tensões subjacentes ao registro da memória, sobretudo urbana. Parte-se da genealogia do conceito de arquivo, em formulações inspiradas pelo archival turn observado nas ciências sociais e humanas a partir dos anos 1990, e da análise de dois projetos artísticos que investigam as histórias relacionadas a um descampado localizado no Porto/PT. Neste terreno existia um dos primeiros conjuntos de habitação social da cidade, erigido nos anos 1940, em uma zona urbana então periférica, e demolido nos anos 2000. Diante da destruição do lugar e da sua sub-representação nos arquivos oficiais, faz-se necessário discutir a relação entre as operações de reestruturação urbana e a parcialidade dos registros dominantes sobre o passado. Destaca-se a potência da prática artística em operar nas lacunas dos arquivos hegemônicos para amplificar histórias consideradas menores, relativas a lugares atingidos por operações físicas e simbólicas de obliteração. [Flora Paim]